Equipamento, segundo médicos, é mais uma ferramenta para ajudar quem está doente. Em Curitiba, quatro hospitais estão usando o capacete.
Com o agravamento da pandemia no Brasil, as equipes da saúde começaram a enfrentar problemas, como a falta de equipamentos, para atender a todos os pacientes que chegam com complicações pela Covid-19.
No Paraná, uma empresa começou a produzir uma espécie de capacete de PVC, que permite a oxigenação não invasiva de uma forma mais confortável aos pacientes, segundo profissionais da saúde.
Médicos ouvidos pelo G1 afirmam que o equipamento não substitui o ventilador, contudo, se torna mais uma ferramenta de trabalho a favor das vidas. Em Curitiba, quatro hospitais estão usando o capacete e mais um está na fila para recebê-lo.
“A ideia não é um substituir um ou outro, eles são complementares, apenas. O vírus causa uma fibrose pulmonar, que endurece o pulmão e a pessoa perde a possibilidade de expandir e receber o ar, então alguns pacientes realmente vão precisar ser entubados, mas em alguns casos não é necessário e, se tivermos um equipamento que nos ajude a fazer com que a pessoa respire melhor, é mais uma arma no combate à Covid-19”, explica o médico Gustavo Schulz.
O capacete, chamado 7Lives – Helmet, surgiu na pandemia, fora do país, e foi adaptado pelas empresas Agile Med e a paranaense Medicalway, quando perceberam a necessidade de mais opções nos hospitais.
“É uma solução a mais, mas também que busca trazer algo diferente. Isso porque as soluções que já existem incomodam o paciente, deixam agitado, e o capacete cria um ambiente em torno da pessoa e tornam a situação mais agradável”, explica Hellen Morais, fisioterapeuta e especialista de produto.
Com o capacete, a pessoa pode falar normalmente e até beber água.
“Através de uma terceira válvula, conseguimos passar um canudo para que o paciente tome água, por exemplo, sem retirar o mecanismo. A pessoa consegue também fazer as atividades de forma mais fácil, sem se preocupar com que o equipamento saia do rosto, como no caso da máscara respiratória”.
No começo, segundo a especialista no produto, as pessoas ficam assustadas por ser uma estrutura grande, “mas quando percebem que vão respirar muito melhor, aceitam e veem que é muito confortável”, destaca Hellen.
“O relato dos pacientes é que é tranquilo, dá para dormir, e os profissionais também estão aproveitando muito. É algo que funciona e evita a entubação, não em 100% dos casos, mas quanto mais evitarmos, melhor”.
Hospitais adotaram equipamento em Curitiba
Em Curitiba, os hospitais Vita – Batel e Atuba -, Marcelino Champagnat e Ônix estão usando o capacete. O médico Gustavo Schulz, superintendente do Vita, cita que os hospitais estão buscando alternativas, e o capacete ajuda a evitar que alguns pacientes acabem precisando do ventilador.
”O capacete não substitui o ventilador, caso o paciente precise, mas é uma opção a mais no tratamento, o que significa mais pessoas sendo atendidas. Com isso, sobra mais ventiladores para aqueles pacientes que não terão outra chance, que vão precisar ser entubados e ir para ventilação invasiva”, destaca Gustavo Schulz.
Em alguns casos, mais graves, o capacete não evita que a pessoa acabe precisando de ser entubada, mas ajuda a retardar esse processo.
“Retardando a ventilação mecânica sem prejuízo para o paciente, por horas ou por dias, pode ser o tempo suficiente entre não ter o ventilador disponível e tê-lo. Dessa forma conseguimos atender mais gente ao mesmo tempo”.
De qualquer modo, o superintendente do Vita pediu que, mesmo com novas alternativas, as pessoas continuem se cuidando.
“Continuamos pedindo que a população nos ajude, porque se as pessoas esquecerem de todas as medidas de prevenção que estão sendo tão divulgadas, vamos ter muita gente adoecendo ao mesmo tempo. Não vamos ter recurso e aí sim os profissionais vão ter que fazer escolhas. Isso é tudo que a gente não quer”, alerta Gustavo Schulz.
Pacientes relatam conforto, diz hospital
No Hospital Marcelino Champagnat, pelo menos cinco pacientes estão usando o capacete. Juliana Thiemy Librelato, fisioterapeuta e coordenadora das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do hospital, disse que os relatos são, realmente, de mais conforto.
“As pessoas falam que o principal é o conforto mesmo, não é como a máscara de oxigênio, que aperta o rosto e até pode falhar. Os pacientes toleram por mais tempo e conseguimos oxigenar melhor estas pessoas. A pessoa pode conversar, movimentar a cabeça e até dormir, tudo normalmente”.
O capacete passou a ser utilizado como uma medida de um tratamento alternativo para melhorar a oxigenação dos pacientes. “Usamos para evitar que o paciente piore. Conseguimos, inclusive, ganhar tempo para que o processo inflamatório diminua”, explica Juliana.
Em todo caso, a fisioterapeuta destaca que nenhum hospital tem postergado a entubação, ou seja, se a pessoa precisar, ela vai para o tubo de qualquer maneira.
“Sabemos que os pacientes, quando evoluem para a entubação, a mortalidade acaba sendo alta. Um dos mecanismos para evitar isso é a ventilação não invasiva, então para evitar que cheguemos entubação, encontramos no capacete como mais um artifício para que a pessoa não vá para o tubo”.
Procurada pelo G1 para comentar o uso do equipamento, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) disse não ter recebido informação sobre o capacete e informou que a Vigilância Sanitária iria verificar as informações repassadas.
Por Lucas Sarzi
Imagens: Divulgação
Fonte: G1 PR