Cada brasileiro gera por dia, em média, 1,035kg de resíduos sólidos urbanos (RSUs). Na soma de todos os habitantes do país, são 214,868 toneladas de metais, papéis, papelões, vidros, madeiras e plásticos, além de substâncias especiais e contaminantes (como hospitalares e químicos) todos os dias. Os dados são do Panorama 2017 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O levantamento mais recente disponível também aponta que 98% das pessoas veem a reciclagem como algo importante para o futuro do país e 94% entendem que a forma correta de descartar os resíduos é separando materiais que podem ser reciclados.
Porém, a pesquisa escancara aquilo que quem trabalha na indústria de transformação e lida cotidianamente com a responsabilidade da gestão de resíduos já sabe há muito tempo: na vida doméstica da maioria da população, o discurso é muito diferente da prática.
O estudo da Abrelpe revela que 75% das pessoas admitem não separar seus resíduos em casa. 66% dos entrevistados afirmaram saber pouco ou nada sobre coleta seletiva. E 60% sequer imaginam que as garrafas PET são recicláveis. A falta de informação generalizada sobre o assunto indica por que o tema da sustentabilidade costuma provocar reações tão exacerbadas na opinião pública: desconhecimento. Uma situação que vem sendo corrigida com resultados verificáveis na Serra Gaúcha.
Quando se fala em reciclagem de materiais plásticos, muita gente ignora ou esquece o fator contaminação.
Fundamental para o reaproveitamento do material e a viabilidade econômica do negócio da reciclagem — muita gente também ignora ou esquece que o reciclador precisa tirar o seu sustento da atividade — é o asseio do resíduo descartado. Há práticas simples de separação e limpeza que podem ser ensinadas, aprendidas e aplicadas no dia a dia por qualquer pessoa. Até por uma criança a partir de cinco anos.
Em aproximadamente 18 meses de operação do projeto Plástico do Bem, quase 50 toneladas de resíduos plásticos já foram recolhidas em 92 escolas municipais de ensino fundamental de Caxias do Sul, Farroupilha e Flores da Cunha. A cada coleta, a empresa Reciclados Em Cristo avalia e pesa o material, remunerando a escola de acordo com o volume e a qualidade do produto. Destas quase 50 toneladas de plásticos encaminhadas para a reciclagem por 3,6 mil professores e 35,3 mil estudantes sem treinamento profissional, apenas com a capacitação ministrada pelo Simplás, com o apoio didático do instituto socioambiental Plastivida e do Instituto Brasileiro do PVC, nem uma único grama foi entregue contaminada. 100% do resíduo chegou à reciclagem em perfeitas condições de aproveitamento. Um processo exemplar de sustentabilidade com economia circular.
Como consequência, a escola é mais bem remunerada, pois o reciclador recebe material de melhor qualidade, e há redução de impacto ambiental, com a destinação correta do resíduo. Paralelamente, o processo de Educação Ambiental sai da escola, vai para as famílias dos estudantes, onde se multiplica, e volta para a sociedade na forma de Consciência Ambiental.
É um trabalho de fôlego contínuo, que exige investimento e constância para ter abrangência e efetividade. Mas que é possível com os recursos existentes e apresenta resultados tanto imediatos quanto futuros para toda a sociedade. As crianças, com sua disciplina e engajamento, inclusive cobrando postura de familiares, amigos e vizinhos, provam que a mudança de comportamento começa em casa.
Por: Gelson de Oliveira, Presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás)
Fonte: Pioneiro – Caxias do Sul