Com a ajuda da nanotecnologia, pesquisa em curso no Brasil desenvolve material composto de PVC e papel para substituir os blisters que acondicionam medicamentos por embalagens com melhor desempenho, menor custo e totalmente recicláveis. A novidade deve chegar ao mercado dentro de aproximadamente um ano. Nicho de mercado que começou a ser desenvolvido no Brasil há cerca de quatro anos, a fabricação de telhas de PVC, produto de sucesso em outros países, se mostra com enorme potencial de crescimento nos próximos anos. As telhas de PVC são mais leves, fáceis de transportar e podem ser montadas com maior facilidade do que as fabricadas com outros materiais. Proporcionam excelente vedação e têm ótimas resistências mecânica e química. O material também permite adequada isolação térmica e acústica e é totalmente reciclável.
Esses exemplos explicam porque o PVC é considerado como material dos mais versáteis à disposição dos transformadores. Entre suas características, encontra-se a facilidade com que permite o desenvolvimento de novas formulações, seja da própria resina, seja a partir da adição de aditivos. A cada momento, surgem soluções capazes de proporcionar à resina qualidades como maior resistência mecânica, proteção a chamas, eficiência térmica e acústica. “O PVC proporciona contínua novidade em mercados nos quais sua utilização já é tradicional, como em tubos e conexões, mas também em setores nos quais surge como possível sucedâneo de outras matérias-primas”, afirma Miguel Bahiense, presidente do Instituto Brasileiro do PVC.
O principal cliente desse material plástico é a indústria da construção civil. Nela, o uso mais significativo do PVC se dá na produção de tubos e conexões. Mas ele está presente em várias outras aplicações, algumas já consagradas, como as que envolvem fios e cabos, outras usadas há anos, mas ainda com mercado muito promissor, como a da produção de esquadrias.
O PVC também faz sucesso em outras áreas. No setor de fios e cabos, existem formulações voltadas para atender também setores de in-fraestrutura, indústria automobilística, aeronáutica, naval e outros. Na indústria calçadista, as variações obtidas com a resina proporcionam cada vez mais conforto, leveza e resistência aos calçados. Sem falar em aplicações ainda inusitadas. A criatividade é o limite.
Inovação – Um desenvolvimento realizado em parceria entre a Braskem, fabricante de PVC, e a Nanomix, empresa nacional surgida na USP e especializada na criação de componentes de nanotecnologia voltados para criar barreiras contra a umidade, promete fazer sucesso no mundo farmacêutico. A proposta é substituir os materiais utilizados atualmente nos blisters, tipo de embalagem muito comum para medicamentos na forma de comprimidos e cápsulas.
‘Tudo começou com a ideia de se usar uma copolimerização do PVC com o papel para substituir o alumínio presente nas embalagens atuais”, conta Izabel Fittipaldi, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Braskem. Existem vantagens nessa substituição. “O alumínio é uma matéria-prima de fonte não renovável e que gasta muita energia para ser produzido”. Quando colado ao filme de PVC, como se faz hoje, a sua recuperação é muito difícil. “Exige um processo de reciclagem caro e pouco efetivo”. O desenvolvimento com nanotecnologia permitiu obter uma embalagem totalmente reciclável. “E possível recuperar o papel, o PVC e até a água utilizada no processo de fabricação”.
A segunda etapa do projeto surgiu para substituir o filme de PVC enriquecido com o coating PVDC, hoje colado ao alumínio nos blisters. “O PVDC é importado e caro e seu uso não permite que o filme seja reciclado”, informa Izabel. O estudo já desenvolveu um filme enriquecido com nanopartículas que, além de contar com insumos nacionais, é mais barato e reciclável. De quebra, apresenta melhores índices de proteção contra a umidade do que a solução atual. “A embalagem que desenvolvemos apresenta maior proteção à passagem de água, o que é uma grande propriedade”. A barreira proporcionada pelo filme com PVDC é de 1,9 gr/m2/24 horas, enquanto a nacional atinge 1,63 gr/m2/24 horas.
O produto desenvolvido pela Braskem e Nanomix já se encontra em fase de testes, realizados por empresas farmacêuticas de grande porte. “Esses testes ainda devem demorar mais seis meses. Acredito que daqui a um ano, ele chegará no mercado”, comentou.
COMPOSTOS – Merecem menções as empresas especializadas na pesquisa e desenvolvimento de compostos, que prestam serviços imprescindíveis para centenas de transformadores. Entre elas, a Dacarto Benvic, outra empresa que mantinha sociedade com o Grupo Solvay e passou a atuar sozinha. Também como consequência da saída do grupo multinacional do mercado de PVC, foi anunciada recentemente a venda de sua participação de 50% ao ex-par-ceiro de joint venture. A conclusão desta transação está prevista para o final de 2017 e sujeita às aprovações usuais, inclusive das autoridades governamentais de defesa econômica.
A Dacarto Benvic tem sede em Osasco-SP e conta com 450 funcionários em escritórios e instalações industriais em São Paulo e na Bahia. Maria Marquez Rocha, diretora superintendente, explica que o investimento feito na aquisição reforça a estratégia da empresa no sentido de continuar seu crescimento sem perder o compromisso de oferecer os melhores produtos e serviços aos clientes. “A versatilidade além da abrangência das aplicações dos compostos de PVC demanda constante inovação para desenvolvimentos de novos e melhores produtos”. A diretora destaca as crescentes demandas no desenvolvimento de produtos para o segmento de calçados. “Há busca por fórmulas que permitam maior leveza, plastificantes alternativos e blendas com outras resinas”.
Outra empresa especializada nesse tipo de serviço é a Karina Plásticos. Há 38 anos no mercado, ela conta com mais de 15 mil formulações desenvolvidas. “Possuímos laboratório com tecnologia de ponta, que se divide entre recepção de matérias-primas, liberação de produção dos compostos e masterbatches e desenvolvimento”, informa Edson de Oliveira Penido, gerente comercial. A empresa atua nos segmentos de fios e cabos, mangueiras, calçados, perfis para construção civil (forro, esquadrias, etc), perfis flexíveis, tubos e conexões, laminados rígidos e flexíveis, filmes tipo película, atóxicos (hospitalares e alimentícios) e outros. “Desenvolvemos uma gama enorme de tipos, durezas e cores”.
Penido lembra que o PVC é o termoplástico mais antigo no mercado. Para ele, nos últimos tempos, algumas resinas mais novas, como PE, PP e PET, entre outras, tomaram-se concorrentes em determinadas situações, em especial no segmento de embalagens. Em outras aplicações, no entanto, o PVC apresenta características imbatíveis. Ele também
mostra otimismo com o nicho de telhas, nos últimos anos em constante evolução. “Desenvolvemos dois compostos, um para a base da telha e outro para o topo dela, que chamamos de capstock”, informa. Os capstocks são fabricados com formulações sofisticadas, com características que permitem resistência às intempéries. “Além proteger a superfície da telha, protege também sua cor”.
RECEITA CASEIRA – A Tigre, empresa que oferece produtos e soluções voltados para a condução e tratamento de água, se declara a maior transformadora de plásticos da América Latina. Ela opera em toda a América do Sul, com exceção da Venezuela, e transforma algo em torno de sete mil toneladas de plástico por ano, das quais cinco mil em plantas industriais instaladas no Brasil. Desse total, a grande maioria é de itens fabricados com PVC.
“Todos os compostos de PVC rígido usados pela Tigre são desenvolvidos internamente com o objetivo de atender requisitos de desempenho e qualidade”, diz Wagner Ferreira, diretor de manufatura e engenharia. Ele define composto de PVC como sendo a mistura da resina de PVC com estabilizantes e lubrificantes, cargas, modificadores de impacto e pigmentos. Ferreira informa que a empresa conta com laboratório instalado em Joinville-SC, dotado com equipamentos e pessoal técnico.
“O nível do trabalho é compatível ao das empresas mais avançadas do mundo. Lá são desenvolvidas as novas formulações para todas as unidades do grupo”. O trabalho passa por etapas de análises reológicas, resistência às intempéries, propriedades mecânicas, elétricas e químicas e requisitos de qualidade. “Além disso, temos parcerias com fornecedores e universidades para efetuar pesquisa, desenvolvimento e homologação de aditivos inovadores para nossos compostos”.
Além da matéria-prima usada em tubos e conexões, o diretor destaca as esquadrias de PVC presentes no portfólio da Tigre. “Elas têm como característica maior conforto térmico e acústico que outros materiais como alumínio ou madeira”. A escolha da resina para a produção das esquadrias se deve, entre outros fatores, pela característica de baixa condução térmica do material e também porque os cantos de uma esquadria de PVC são soldados por termofusão, que garante total vedação nestas áreas.
Alguns estudos realizados foram apontados por Ferreira como bastante sofisticados. São os casos dos compostos de injeção de alta fluidez para tornar mais produtivos moldes de peças grandes, caso, por exemplo, dos quadros e caixas de passagem para eletricidade e telecomunicações, dos compostos usados na linha de peças para tratamento de esgoto Redux e no aditivo para reutilização do composto de PVC de parada de máquinas (paradeira), usado no sistema de reciclagem interna de materiais, entre outros. ¦
INSTITUTO QUER AMPLIAR A RECICLAGEM
A taxa de reciclagem de PVC pós-consumo se situa na casa dos 20%, de acordo com monitoramento realizado pelo Instituto Brasileiro do PVC durante um período de dez anos. Os resultados podem ser bem mais significativos se nos próximos anos acontecer o desenvolvimento de sistemas de coleta de resíduos pós-consumo nas cidades brasileiras. Hoje, o país tem mais de 5,5 mil municípios, dos quais apenas 18% apresentam algum tipo de sistema de coleta seletiva.
“É preciso mudar esse cenário para que a indústria de reciclagem tenha oportunidade de se desenvolver mais e mais”, ressalta Miguel Bahien-se, presidente do instituto. Ele destaca um diferencial do PVC em relação a outras resinas. Em torno de 70% dos produtos fabricados com a resina são usados em aplicações de longa duração, com vida útil superior a 15 anos. São os casos, por exemplo, dos tubos e conexões, pisos e janelas, entre outros. Em algumas situações eles chegam a ultrapassar os 50 anos de uso.
Isso não significa que o setor não se preocupe com a questão. “Atuamos de forma intensa para mostrar a reciclabilidade do PVC mediante projetos focados em diversas áreas em que se aplica o produto”. Como exemplo, ele cita dois cases de sucesso. “Em parceria com a Método Engenharia, coletamos e reciclamos toda a sobra de PVC gerada na construção de um grande edifício em São Paulo. Também trabalhamos com um projeto de reciclagem do PVC utilizado na área médica, realizado com o Hospital Carlos Chagas, em Guarulhos-SP”.
Atualmente, o alvo se encontra no Programa RC, de reciclagem de cartões, efetuado em parceria com a RS de Paula. Ele ocorre com a ajuda do Papa Cartão, equipamento que tritura cartões feitos de PVC, como os de débito, crédito, seguro-saúde, fidelidade, cartões-presentes, cartões telefônicos, bilhete único e outros em final de vida útil. “Evitamos que esses cartões, mesmo os que contêm chip e tarja magnética, sejam descartados no meio ambiente. Hoje, existem mais de 70 locais de coleta em todo o Brasil, que recolhem aproximadamente 500 mil cartões de PVC por ano”.
Com o material obtido são produzidas peças como porta-copos, placas de sinalização, caixas, marcadores de páginas, cartões de visitas, entre outros. Os Papa Cartão podem ser encontrados em empresas, shoppings, estações do metrô, aeroportos, condomínios, feiras e eventos e parques. 0 Instituto Brasileiro do PVC, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a Plastivida, mantém doze pontos de coleta de cartões em autarquias de Brasília, pertencentes ao Ministério do Meio Ambiente e ao Congresso Nacional.
Em dois locais, o projeto conta com ciclo fechado de produção, ou seja, os cartões coletados são transformados em novos cartões indicados para finalidade idêntica. Há um ano, o aeroporto do arquipélago de Fernando de Noronha ganhou um Papa Cartão que, com os descartes, refaz os cartões utilizados para o acesso às praias locais. Nos mesmos moldes, o instituto acabou de firmar uma parceria com o Jumpark Jundiaí, cuja proposta é ser o primeiro parque de entretenimento sustentável do país. Os cartões de acesso ao parque já são feitos com PVC reciclado, proveniente de coletas dentro do próprio parque ou de outras coletas feitas pelo programa.
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Fonte: Plástico Moderno
Fotos divulgação: José Paulo Sant’Anna