Nature Urbaine vai ocupar um total de 14 mil metros quadrados sobre os telhados do Parque de Exposições de Versalhes.
Tão logo a França afrouxou a quarentena contra o coronavírus, Paris inaugurou aquela que pretende se transformar na maior horta urbana do mundo. Sobre os telhados do Parque de Exposições de Versalhes, no sul da capital, a Nature Urbaine vai ocupar um total de 14 mil metros quadrados.
No local, as técnicas mais avançadas de agricultura urbana tomam espaço, como aquaponia e aeroponia, que dispensam o uso da terra e tornam a estrutura mais leve e adaptada para um telhado. No lugar, é usado um substrato de coco onde crescem as raízes de morangos ou tomates.
“O objetivo das hortas urbanas não é de abastecer uma metrópole como Paris, mas contribuir para alimentar a cidade de uma maneira mais ecológica”, como explica a coordenadora da iniciativa, Sophie Hardy. “São produtos de alta qualidade gustativa, com circuito curto de produção. Evitamos, assim, os 1.500 quilômetros que costumam percorrer os tomates que chegam nos nossos pratos.”
Estruturas verticais
Na Nature Urbaine, as plantas crescem para cima, apoiadas em colunas verticais de PVC e bambu, e não espalhadas em fileiras no chão, como nas plantações tradicionais. Desta forma, um metro quadrado se torna cinco vezes mais produtivo do que o habitual, garante Sophie. Um local para a população urbana se reconectar com a natureza;
“Eu acho que a Nature Urbaine encarna o espírito do famoso ‘mundo depois da Covid-19’. Aqui nesta coluna, por exemplo, vemos acelgas crescendo, mas também temos flores, como as capuchinhas, que colocamos para atrair polinizadores”, conta. “Uma coisa que nos surpreendeu quando chegamos é que não havia nenhum inseto. Nada. Ficamos até um pouco preocupados, no início. Percebemos que, alguns meses depois de nos instalarmos aqui, que já temos abelhas, joaninhas, borboletas.”
Água reaproveitada e monitoramento eletrônico
Por enquanto, são quatro mil metros quadrados de área plantada, onde os agrotóxicos não têm vez. As cerca de 20 espécies de plantas são regadas e adubadas automaticamente, e 90% da água utilizada é reciclada, ressalta Kahlia Gauthier, técnica agrônoma do local.
“Temos computadores que gerenciam tudo. Recebemos alertas no telefone se tem algum problema. Tudo é eletrônico”, revela a jovem. “Ganhamos muito tempo, ao não manejar diretamente a terra. Não tem ervas daninhas, por exemplo. Tudo é bastante técnico, mas a gente aprende rápido.”
Os métodos mais modernos são o carro-chefe, mas a “terra de verdade” não está ausente do projeto. Uma parte do telhado abriga jardins compartilhados que são alugados por chefs, hotéis e ou simplesmente moradores da região, que podem plantar e participar de cursos de jardinagem.
“Para o público em geral, os nossos sistemas são complexos demais. Nessa parte, podemos nos reconciliar com a terra. As famílias poderão vir com crianças, afinal queremos que essas práticas se transmitam de geração em geração”, afirma Sophie.
Ilha verde em meio aos congestionamentos
As frutas e legumes já são consumidos no próprio local: o recém inaugurado bar e restaurante Le Perchoir, de uma rede descolada de rooftops de Paris, absorve uma parte da produção. O restante é vendido em mercados do bairro, no 15º distrito da capital francesa.
Durante todo o ano, em tempos normais, o Parque de Exposições de Versalhes recebe algumas das feiras mais conhecidas do mundo – como, ironicamente, o Salão do Automóvel. Logo ao lado, passa também o anel rodoviário de Paris, sempre congestionado. O Nature Urbaine vira uma ilha verde em meio a este cenário consumista e poluído.
“Os legumes não estão poluídos. A poluição entra nas plantas pelas raízes, e no nosso caso, as raízes ficam protegidas dentro das colunas”, frisa a coordenadora. “Além disso, estamos num telhado a 15 metros de altura. Os metais pesados não chegam a essa altura. Quanto às partículas finas expelidas pelos carros, basta lavar as frutas e legumes normalmente para poder consumi-los. Não tem nenhum problema.”
A previsão é de que, em dois anos, todo o telhado do pavilhão 6 do Parque de Exposições esteja tomado pela agricultura urbana.
Por: RFI
Fonte: G1