A economia circular está sendo cantada em verso e prosa. Sei que a frase soa poética, mas reflete bem uma percepção: vemos diversas soluções sendo apresentadas, mas nem sempre contemplam os fatos e estão adequadas à realidade. Ou seja, antes de alardear a Economia Circular devemos quebrar paradigmas e avaliar a questão — e todos os seus prós e contras — de frente.
Sendo assim, fica a pergunta: “Queremos tratar o tema Economia Circular como custo ou solucionar de vez as demandas que nós mesmos geramos?”
Para ajudar neste raciocínio, é bom lembrar que a Economia Circular é um conceito que repensa as práticas econômicas e visa manter produtos, componentes e materiais em circulação, aproveitando ao máximo seu valor e utilidade. Estamos falando de um conceito de “cradle to cradle”, ou seja, “do berço ao berço”.
A Economia Circular vai além do conceito dos três Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e está calcada em um modelo sustentável que segue o ritmo tecnológico e comercial do mundo atual. Sendo assim, podemos dizer que o que praticamos hoje é uma “subciclagem” ou downcycle de materiais que não foram projetados considerando seu reaproveitamento pós consumo.
O projeto de Economia Circular é, portanto, mais complexo e inclui sistemas de reparo, reuso e remanufatura, além da reciclagem propriamente dita, em que matérias-primas mantêm ou mesmo aumentam seu valor. Estamos falando de upcycle ou uma “superciclagem”. O oposto total da tradicional economia linear, baseada nos processos ‘extrair-produzir-descartar´.
Infelizmente vemos muitas empresas, especialmente os donos de marcas, insistindo em praticar a Economia Circular com base na redução de custos. Para eles, a “simples” inclusão de conteúdo reciclado nas embalagens é a solução. Não é simples e não é barato.
É preciso esclarecer, de forma responsável, que o custo de se produzir um material reciclado, no Brasil, é superior ao da produção de matéria-prima virgem. Trata-se de uma cadeia complexa e que envolve vários players e etapas: coleta, separação, higienização, logística, produção, especificações técnicas próprias, etc. Enfim, é todo um sistema diferente que não pode se equiparar ao da matéria-prima virgem.
Se a busca for por redução de custo, não percam seu tempo na Economia Circular. Basta especular e aproveitar os altos e baixos dos preços da matéria-prima virgem. Agora, se a proposta é realmente introjetar o conceito de Economia Circular na cultura da empresa e oferecê-la na forma de produtos para o consumidor final, é preciso entender que há uma grande possibilidade dos custos de produção serem superiores, pelo menos por enquanto, pelo menos frente à realidade atual. E isto só não enxerga quem não quer.
O material PCR (reciclagem pós consumo) não é uma matéria prima virgem que foi reciclada, como bem lembrou Amarildo Bazan, da Bazan Consultoria de Negócios. Ele é um produto completamente novo que passou por uma complexa cadeia de produção para chegar a ser novamente matéria prima.
E como relatou o CEO Global da Nestlé, por enquanto os produtos reciclados ou produzidos com matéria-prima reciclada continuarão a ter um custo de produção mais alto. A boa notícia é que o consumidor, cada vez mais consciente de seu papel social e ambiental, estará disposto a arcar com esse custo se ele representar uma mudança de impacto positivo.
Precisamos quebrar o paradigma de que reciclado é mais barato e sair da inspiração da Economia Circular para a verdadeira transpiração de um trabalho calcado em reciclagem e sustentabilidade!!!
O Brasil pode se tornar um exemplo para o mundo, mas precisamos que todos tenham clareza sobre a importância de se PRATICAR Economia Circular e não apenas discursar sobre ela!
Por Rogério Mani, presidente da Abief